sábado, 29 de setembro de 2012

10º Poema

A voz da tília


Diz-me a tília a cantar: "Eu sou sincera, 
Eu sou isto que vês: o sonho, a graça; 
Deu ao meu corpo, o vento, quando passa, 
Este ar escultural de bayadera... 

E de manhã o sol é uma cratera, 
Uma serpente de oiro que me enlaça... 
Trago nas mãos as mãos da Primavera... 
E é para mim que em noites de desgraça 

Toca o vento Mozart, triste e solene, 
E à minha alma vibrante, posta a nu, 
Diz a chuva sonetos de Verlaine..." 

E, ao ver-me triste, a tília murmurou: 
"Já fui um dia poeta como tu... 
Ainda hás de ser tília como eu sou..." 

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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

9º Poema

O meu desejo

Vejo-te só a ti no azul dos céus,
Olhando a nuvem de oiro que flutua...
Ó minha perfeição que criou Deus
E que num dia lindo me fez sua!

Nos vultos que diviso pela rua,
Que cruzam os seus passos com os meus...
Minha boca tem fome só da tua!
Meus olhos têm sede só dos teus!

Sombra da tua sombra, doce e calma,
Sou grande quimera da tua alma
E, sem viver, ando a viver contigo...

Deixa-me andar assim no teu caminho
Por toda a vida, Amor, devagarinho,
Até a Morte me levar consigo...

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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

8º Poema

Os meus versos


Rasga esses versos que eu te fiz, amor! 
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento, 
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento, 
Que a tempestade os leve aonde for! 

Rasga-os na mente, se os souberes de cor, 
Que volte ao nada o nada de um momento! 
Julguei-me grande pelo sentimento, 
E pelo orgulho ainda sou maior!... 

Tanto verso já disse o que eu sonhei! 
Tantos penaram já o que eu penei! 
Asas que passam, todo o mundo as sente... 

Rasgas os meus versos... Pobre endoidecida! 
Como se um grande amor cá nesta vida 
Não fosse o mesmo amor de toda a gente!... 

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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

7º Poema

Minha culpa


A Artur Ledesma 

Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem 
Quem sou? Um fogo-fátuo, uma miragem... 
Sou um reflexo... um canto de paisagem 
Ou apenas cenário! Um vaivém... 

Como a sorte: hoje aqui, depois além! 
Sei lá quem sou? Sei lá! Sou a roupagem 
Dum doido que partiu numa romagem 
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!... 

Sou um verme que um dia quis ser astro... 
Uma estátua truncada de alabastro... 
Uma chaga sangrenta do Senhor... 

Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados, 
Num mundo de vaidades e pecados, 
Sou mais um mau, sou mais um pecador...

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terça-feira, 25 de setembro de 2012

6º Poema

Amar

Eu quero amar, amar perdidamente! 
Amar só por amar: Aqui... além... 
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente... 
Amar! Amar! E não amar ninguém! 

Recordar? Esquecer? Indiferente!... 
Prender ou desprender? É mal? É bem? 
Quem disser que se pode amar alguém 
Durante a vida inteira é porque mente! 

Há uma Primavera em cada vida: 
É preciso cantá-la assim florida, 
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! 

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada 
Que seja a minha noite uma alvorada, 
Que me saiba perder... pra me encontrar... 

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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

5º Poema

A nossa casa


A nossa casa, Amor, a nossa casa! 

Onde está ela, Amor, que não a vejo? 
Na minha doida fantasia em brasa 
Constrói-a, num instante, o meu desejo! 



Onde está ela, Amor, a nossa casa, 
O bem que neste mundo mais invejo? 
O brando ninho aonde o nosso beijo 
Será mais puro e doce que uma asa? 



Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos, 
Andamos de mãos dadas, nos caminhos 
Duma terra de rosas, num jardim, 



Num país de ilusão que nunca vi... 
E que eu moro - tão bom! - dentro de ti 
E tu, ó meu Amor, dentro de mim... 

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domingo, 23 de setembro de 2012

4º Poema

Se tu viesses ver-me...


Se tu viesses ver-me hoje à tardinha, 
A essa hora dos mágicos cansaços, 
Quando a noite de manso se avizinha, 
E me prendesses toda nos teus braços... 

Quando me lembra: esse sabor que tinha 
A tua boca... o eco dos teus passos... 
O teu riso de fonte... os teus abraços... 
Os teus beijos... a tua mão na minha... 

Se tu viesses quando, linda e louca, 
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo 
E é de seda vermelha e canta e ri 

E é como um cravo ao sol a minha boca... 
Quando os olhos se me cerram de desejo... 
E os meus braços se estendem para ti... 


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sábado, 22 de setembro de 2012

3º Poema

Versos de orgulho
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O mundo quer-me mal porque ninguém 
Tem asas como eu tenho! Porque Deus 
Me fez nascer Princesa entre plebeus 
Numa torre de orgulho e de desdém. 

Porque o meu Reino fica para além... 
Porque trago no olhar os vastos céus, 
E os oiros e os clarões são todos meus! 
Porque eu sou Eu e porque Eu sou Alguém! 

O mundo? O que é o mundo, ó meu amor? 
- O jardim dos meus versos todo em flor... 
A seara dos teus beijos, pão bendito... 

Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços... 
- São os teus braços dentro dos meus braços: 
Via Láctea fechando o Infinito. 

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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

2º Poema

A minha tragédia


Tenho ódio à luz e raiva à claridade 

Do sol, alegre, quente, na subida, 
Parece que a minh’alma é perseguida 
Por um carrasco cheio de maldade! 



Ó minha vã, inútil mocidade, 
Trazes-me embriagada, entontecida! ... 
Duns beijos que me deste noutra vida, 
Trago em meus lábios roxos, a saudade! ... 



Eu não gosto do sol, eu tenho medo 
Que me leiam nos olhos o segredo 
De não amar ninguém, de ser assim! 



Gosto da Noite imensa, triste, preta, 
Como esta estranha e doida borboleta 
Que eu sinto sempre a voltejar em mim! ... 

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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

1º Poema

Torre de Névoa

Subi ao alto, à minha Torre esguia, 
Feita de fumo, névoas e luar, 
E pus-me, comovida, a conversar 
Com os poetas mortos, todo o dia. 

Contei-lhes os meus sonhos, a alegria 
Dos versos que são meus, do meu sonhar, 
E todos os poetas, a chorar, 
Responderam-me então: “Que fantasia, 

Criança doida e crente! Nós também 
Tivemos ilusões, como ninguém, 
E tudo nos fugiu, tudo morreu! ...” 

Calaram-se os poetas, tristemente ... 
E é desde então que eu choro amargamente 
Na minha Torre esguia junto ao céu! ... 

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10 dias com Florbela Espanca

   Olá, como o título diz eu vou por entre dia 20 (hoje) e 29 deste mês dez poemas que eu escolhi da Florbela Espanca.
   Eu adoro poesia como já devem ter reparado e gosto muito dos poemas dela. Foi difícil escolher 10 mas lá os escolhi.
   Hoje irei colocar um... mas lá para o final da tarde! Espero que gostem :)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Dias das ideias


Deixem aqui a vossa ideia para o poema do Desafio S!

domingo, 9 de setembro de 2012

Desafio S


O Desafio S está de volta!! 
Vai começar amanhã dia 10!!

   Não está muito diferente do que foi da primeira vez mas aqui vai a explicação:
   Entre os dias 10 e 15 quero:

- que me proponham temas
- ou digam uma palavra (ou quantas quiserem, mas que estejam relacionadas)
- ou uma frase na qual eu me irei inspirar 

   Entre as vossas sugestões vou escolher um tema, palavra, frase de uma pessoa.
   Caso a tua não seja selecionada pode ser usada no mês seguinte novamente ou podes dar outra sugestão.  

   Farei um post no dia 10 onde vão deixar as vossas ideias para o poema.
   Entre o dia 10 e o dia 25 será o tempo que terão para comentar (Dias das Ideias). Para depois entre o dia 15 e 20 eu fazer o poema.

   E é aí que vocês depois atuam novamente!!
   No dia 20 publico o poema e vocês entre dia 20 e 25 fazem um comentário com uma frase inspirado no meu poema.

   E no dia 29 digo qual de vocês o melhor e ganharão um selinho que tratarei de fazer especialmente para a pessoa vencedora!

Portanto é exactamente como o primeiro, só mudam as datas e a questão de ser uma frase :)
Espero que participem!