sexta-feira, 6 de julho de 2012

Eu, o Espelho e a Água a Ferver.

Já não me sinto eu quando me olho ao espelho
Vejo refletido aquilo que não sou mais
Mas aquilo que ja fui

Toco no espelho a ver se ele é real
Está frio e turvo (abri a torneira, água quente... a escaldar, enchia a banheira)
Não aguento mais
Aquilo que era ruiu

Sou agora carne vermelha, cosida pela água quente da banheira
Os meus olhos turvos
A minha voz sem som
Os meus ouvidos surdos

Sem movimentos
Assim estou eu debaixo da água mais quente
Que se tornara a mais fria
Era o que eu temia
Deixei de existir

A minha alma fugiu mal tocou naquela água quente que nos faz soltar um "ui"
O meu corpo... já não é meu
As minhas emoções fugiram-me - pensei eu
Pensei mal, eu estava ali, continuava a ser eu

Reparei nisso quando a minha lágrima tocou na água a ferver
E tudo gelou

Continuava a ser eu
Mas não me reconhecia
Contudo apercebera-me tarde de mais
Apenas nos últimos segundos da minha vida.

2 comentários: